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Prefeitura realiza palestra sobre “capacitismo” com especialista da Fiocruz

sexta-feira | 25/08/2023
A palestra reuniu muitos profissionais do município e o público em geral (Fotos: Jully Lioba)

A Prefeitura de Eusébio, por intermédio do NAMME, UEPA e APAE realizou, nesta sexta-feira, (25/08), uma palestra abordando o tema ‘Capacitismo’, ministrada pela pesquisadora e professora da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, Laís Costa. O evento foi realizado no Auditório da Escola de Formação Neusa de Freitas Sá, em alusão a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual e Múltipla. O evento foi aberto pela coordenadora do NAMME, Elieuda do Vale que destacou a importância do tema na atualidade visando a construção de uma sociedade mais inclusiva. E falou do trabalho realizado no Eusébio com as pessoas com deficiência, visando sua formação e capacitação para a vida.

Primeira-dama fala da necessidade de dar oportunidades

A deputada estadual e primeira-dama de Eusébio, Marta Gonçalves, destacou seu trabalho na Assembleia Legislativa, “graças ao apoio das pessoas estou na luta diária pelos direitos das pessoas com deficiência. Tenho certeza que com o apoio de todos vocês vamos ser vitoriosos em nossas pautas e nossas lutas. É importante não excluir e sim incluir. Acho interessante quando pessoas vêm ao Eusébio falar de suas experiencias no atendimento de pessoas com deficiência. Aí eu penso comigo, nós já realizamos isso aqui no Eusébio. Parece até que todas políticas públicas existentes, nós já fazemos aqui. Mais do que isso, somos pioneiros. A primeira sala de AEE foi na Escola do Cararu, mesmo antes da criação delas pelo Governo Federal”, disse.

Segundo ela, a sala do AEE do Cararu recebia, além das pessoas com deficiência, pessoas com dificuldade de aprendizagem. “Nós contávamos com um departamento, montamos uma sala de brinquedos pedagógicos, era tudo feito na base do brincar. Na época eu fazia psicopedagogia e montei essa sala e fazíamos aprendizagem, pois sabemos que existem dificuldades de aprendizagens que tambem são sociais. Ontem no Seminário “Conectar e somar para construir inclusão”, na Fiocruz, falaram de atendimento as famílias das Pessoas com Deficiência. Nós já fazemos isso com o atendimento parental na UEPA. Temos hoje sete pessoas com deficiência, que passaram por nossos equipamentos, que estão na Faculdade. Se vocês abraçarem essa causa, poderemos ter mais, basta que a gente dê oportunidade”, pontuou.

“Quando a gente tem oportunidade, a gente mostra o nosso talento. Porque nós não somos iguais, graças a Deus. Eu sou completamente diferente do Acilon e nós não vivemos há 40 anos juntos Assim somos nós na sala de aula, se nós temos 50 alunos, todos eles são completamente diferentes. Alguém pode até dizer: mas tem um deficiente. Se eu ouvisse isso, eu diria; e daí? ele é uma pessoa como você. Dentro das suas estratégias políticas, dentro da pedagogia, você deve ter uma estratégia para a aprendizagem dele. Estude, porque ele está aqui para aprender e você sabe o tanto quanto eles são capazes. Eu escutei do professor Julio Alexandre (secretário de Educação) que um aluno com deficiência tinha feito uma prova toda e tirou 10, pra mim não é surpresa. É isso que eu quero ouvir todos os dias. Nós somos diferente sim, graças a Deus”, reforçou.

Prefeito Acilon ressalta que sempre é oportuno avaliar novas experiencias para melhorar as políticas sociais

O Prefeito Acilon Gonçalves, em sua fala, destacou ser importante dar condições para que as pessoas possam acessar as oportunidades de aprender e mostrar os seus potenciais. Ele citou o exemplo de sua casa onde todos os irmãos fizeram vestibular para Medicina, e um deles tido como o menos inteligente ficou em segundo lugar no Estado. Portanto, muitas vezes basta ter oportunidade na vida. “Muitas vezes achamos que estamos corretos, mas a vida nos mostra que estamos equivocados. Temos que estar sempre nos preparando e analisando as experiencias. Recebemos aqui uma comitiva do UNICEF e eu estava falando de nossa experiencia com o Tempo Integral a partir e zero ano, achando que estava contando vantagem. Então um deles disse: está tudo errado, pois quem tem que cuidar da criança na primeira infância é a família. Ai então criamos esse projeto que a mãe que não trabalha, recebe meio salário mínimo para cuidar de seu filho, com todo acompanhamento pedagógico”, frisou.

Palestra

Laís Costa aborda o tema trazendo uma reflexão do papel de cada um para superar o problema

Em sua palestra Lais Costa destacou que quando se fala em preconceito, pode-se avaliar também a invisibilidade das pessoas com deficiência. “Quando estamos na rua, em um bar, em um restaurante, e não temos nem 20% dos presentes com deficiência, entendemos que devem estar em algum lugar. Quantos aqui são casados com um pessoa com deficiência ou tiveram na infância um melhor amigo com deficiência? Quando a gente percebe esse vazio, vemos que tem alguma coisa errada em nossa sociedade. Tem gente que acha que pessoa com deficiência é menos pessoa. Por onde estão essas pessoas? A pergunta que devemos fazer hoje é: o que estamos fazendo para que essas pessoas continuem sem conviver na sociedade”, indagou.

Lais mostrou números da pesquisa “Marcador Social da Deficiência no Brasil e destacou que o capacitismo nada mais é que uma superproteção, sentimento de piedade equivocado de que o outro não é capaz de realizar algo por ter deficiência. “O capacitismo pode ser manifestado de muitas formas e é dirigido a qualquer pessoa que apresenta uma deficiência, seja ela física, intelectual ou sensorial e apesar de muitas vezes partir de alguém com o objetivo de auxiliar, termina por causar constrangimentos”, comentou.

Legislação

A Lei Brasileira da Inclusão da Pessoa com Deficiência ou LBI (lei 13.146/15) considera o capacitismo um crime de ódio e prevê pena de um a três anos de reclusão e multa para a pessoa infratora. A reclusão pode ter o seu período aumentado dependendo das condições em que o crime foi praticado. Conhecida como o Estatuto da Pessoa com Deficiência, a LBI foi a primeira lei federal baseada inteiramente na Convenção Internacional da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência assinada pelo Brasil, em Nova York, nos Estados Unidos, em 30 de março de 2007. Uma de suas principais inovações foi mudar o conceito jurídico de “deficiência” que passou a incorporar fatores sociais e ambientais, entre outros.

Quem é?

Laís é ativista pelos direitos das pessoas com deficiência , conselheira do Movimento Down, cofundadora do Acolhedown, sanitarista, Doutora em Saúde Pública pela Ensp Fiocruz, Pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública, Docente da Ensp e do Iesc; mestre em Development Studies pela London School of Economics and Political Science (LSE); Especializada em Gestão de Organizações de Ciência e Tecnologia em Saúde pela Fiocruz. Servidora pública federal da Fundação Oswaldo Cruz, e faz parte do Departamento de Administração e Planejamento em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Daps/Ensp/Fiocruz).